segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

No reino da hipocrisia

por Silmara Helena
A imprensa brasileira é hipócrita. Ontem (domingo 10/01) ouvia a Rádio Jovem Pan quando entrou na programação um editorial no qual a emissora se posicionava contra o decreto assinado pelo Presidente Lula que, entre outras medidas, abre a possibilidade de punição, até mesmo com a perda da concessão, dos veículos de comunicação que não respeitarem os direitos humanos. Foi o que bastou para que a Jovem Pan já se arvorasse a criticar o governo federal e tratasse a questão como perseguição à imprensa e ameaça à liberdade de expressão.

Ora. Vamos aos fatos:

  • A comunicação no Brasil é dominada por poucas (dez no máximo) famílias que detém a propriedade dos principais veículos do País. Desde Assis Chateubriand, o País não conhece um meio de comunicação que não tenha como forma principal de financiamento a venda de publicidade. Isso faz com que a informação, longe de ser um bem público, torne-se moeda de troca para os mais espúrios interesses;
  • Só tem direito à liberdade de expressão quem tem acesso aos veículos. E para ter acesso aos veículos, o cidadão precisa fazer parte da tal “elite” que domina a comunicação ou abrir espaço na base do dinheiro mesmo. Quem paga ganha espaço. Para falar qualquer coisa, inclusive, mentiras;
  • A imprensa reproduz em suas páginas estereótipos e reforça preconceitos de raça, gênero, opção sexual. Ignora os conflitos entre brancos e negros; discrimina o MST e os movimentos sociais e menospreza a mulher e a luta pela igualdade de gêneros;
  • O Brasil é um dos únicos países do mundo que não tem Lei de Imprensa. Jornalistas irresponsáveis falam e escrevem o que querem. Ao cidadão resta calar-se ou entrar na Justiça em busca de reparação. Os erros, propositais ou não cometidos pela imprensa, já acabaram com vidas e a Folha publicou, sem pudor, um documento falso contra a Ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. O que aconteceu com a Folha? Nada. Bom, mas o que esperar de um jornal que emprestava os seus carros para levar presos políticos à tortura?
  • A imprensa não dá direito ao contraditório. Tem lado e favorece este lado ao seu bel prazer, como se o leitor, o ouvinte ou o telespectador fosse um completo idiota e não percebesse a manipulação das informações. O digníssimo apresentador do Jornal Nacional Willian Bonner comparou o telespectador brasileiro ao Simpson pai; diga-se, de passagem, um verdadeiro imbecil (ele e o personagem);
  • Por fim, parte desta imprensa apoiou o golpe militar, como já citei acima em relação à Folha. Alguns jornalistas, como demonstrou bem Boris Casoy , fazem parte desta elite preconceituosa e medíocre, que tem acesso aos meios de comunicação, faz discurso politicamente correto, mas por detrás dos microfones deixa cair as suas máscaras.
É esta imprensa que faz o discurso da liberdade de expressão. Temos de ter sim liberdade de expressão mas para todos. Direito à informação é direito humano. Espero, como jornalista, que o Presidente Lula não ceda às pressões. Mantenha o decreto que pode ser um divisor de águas entre a imprensa séria e esta que, infelizmente, prevalece hoje no País - hipócrita, ditadora e medíocre.

Os delegados da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovaram diversas propostas voltadas à garantia da democratização dos meios; de participação da sociedade na definição de conteúdo e da punição àqueles veículos que ignoram solenemente o compromisso com a sociedade, e usam as concessões para acumular poder e dinheiro.

O cerco está se fechando. E o Brasil, assim como outros países da América Latina, precisam e vão avançar na consolidação da democracia. No entanto, somente será possível consolidar a democracia, se o Estado garantir, por meio do cumprimento dos preceitos constitucionais, que a imprensa exerça na prática o respeito irrestrito ao direito das pessoas. Com ou sem áudio. Na frente ou por detrás das câmeras.

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